sábado, 25 de junho de 2011

mitologia japonesa.




O caos japonês

 














 
Por eras e eras a fio só havia o Caos, inimaginavelmente ilimitado e sem forma definida.
Dessa massa sem fronteiras e amorfa emergiu algo leve e transparente e formou a Planície dos Céus Elevados, na qual se materializou Ame-no-Minaka-Nushi (Deidade-do-Augusto-Centro-do-Céu).
Logo depois os Céus deram a luz a uma deidade chamada Takami-Musubi (Elevada-Augusta-Deidade-Produtora-de-Maravilhas), seguida de uma terceira chamada Kammi-Musubi (Divina-Deidade-Produtora-de-Tesouros). 
Estes três seres divinos foram chamados de As Três Deidades Criadoras.

Enquanto isto, o que era pesado e opaco neste vazio gradualmente se precipitou e se transformou na terra, mas levou um tempo imensamente longo para se condensar suficientemente e formar um solo sólido.
Em seu estágio primordial, por milhões e milhões de anos, a terra se assemelhava a uma mancha de óleo flutuante, como uma água-marinha na superfície da água.
De repente, como que jorrando por um tubo, dois seres imortais nasceram. 

Eles eram Umashi-Ashi-Kahibi-Hikoji (Príncipe-Primogênito-do-Agradável-Jorro-do-Tubo) e Ame-no-Tokotachi (Celestial-Eternamente-Pronta).
Muitos deuses então nasceram em sucessão, e assim, eles cresceram em número.

De todas essas divindades primordiais, Takami-Musubi foi a que teve mais registros posteriores. Alguns mitos o colocam como mensageiro e principal assistente de Amaterasu, funcionando como porta-voz da deusa. 
Outros dizem que ele é marido da deusa e avô de Ninigi-no-mikoto, fundador da dinastia imperial japonesa. Também existem registros de Takami-Musubi ser mulher e deusa do Sol Admirável.

Fukurokuju

 

 



Fukurokuju veio do budismo chinês para ser um dos Sete Deuses da Sorte do xintoísmo japonês. É o deus da sabedoria, vida longa e virilidade.
Seu nome é composto pelos ideogramas fuku (prosperidade), roku (felicidade) e ju (vida longa).
Baseia-se no sábio chinês Lao Tzu, que mantinha arquivos para a cor te imperial da dinastia Sung, e encarna a Estrela Polar do Sul. 
Ele era famoso por fazer milagres, especialmente no campo da longevidade e prosperidade, sendo capaz até de ressuscitar mortos.
Durante sua encarnação humana, era considerado um sennin, um filósofo capaz de viver sem comida, que adorava xadrez. Pode ser também a unificação das Três Estrelas Chinesas, Fu Lu Shou.

É representado como um velho calvo com uma alongada cabeça, corpo mirrado (cabeça e corpo teriam o mesmo tamanho) e uma longa barba branca, significando a grande sabedoria passada de gerações para gerações. 
Carrega um bastão com um hebi (pergaminho mágico com toda a sabedoria do mundo) amarrado em uma mão e um ogi (leque cerimonial).
Se aparecer com um tokkuri (cabaça para saquê), significa que está sendo confundido com outro deus da sorte, Jurojin, uma vez que suas representações são extremamente semelhantes.
Anda acompanhado de um grou, um cervo ou uma tartaruga, símbolos de longevidade.

Dizem que quem ganha uma estatueta ou pintura de Fukurokuju se torna popular e tem uma vida longa. Passar a mão na sua pontuda cabeça melhora a inteligência.






OBS.: Os outros deuses da sorte são: Benten, Bishamon, Daikoku, Ebisu e Hotei.

 

 
Ukemochi e seu marido Inari, 
como uma raposa branca.


Também chamada de Ogetsu-himi-no-kami (Grande princesa da comida), Wake-umi-nomi (Jovem mulher com comida) e Toyo-uke-bime (Princesa da rica comida), Ukemochi (Deusa que possui os alimentos) era a deusa do arroz, da nutrição e do banquete no xintoísmo.
Pode-se ver que todos os seus nomes de rivados são relacionados à comida e ao sustento em geral.

Sua lenda mais conhecida é o da sua relação com Amaterasu, a grande deusa do sol, que é contada no Nihon Shoki ("crônicas japonesas"). 
Aparece com algumas alterações, mas, basicamente, é o seguinte: Amaterasu utilizou sementes fornecidas por Ukemochi para plantar seus enormes campos de arroz.
A grande deusa pediu que seu irmão Tsuki-Yomi (em outras lendas é Susanowo) verificasse suas plantações e o trabalho de Ukemochi, quando estivesse escondida em sua caverna.

Sabendo da visita do deus, Ukemochi resolveu preparar um imenso banquete: vomitou arroz cozido (felicidade e abundância), peixe (sabedoria e abundância) e algas (alegria). Tsuki-Yomi viu a preparação e ficou tão enjoado que a matou.
Da cabeça de Ukemoch i, saíram bois e cavalos; suas sobrancelhas transformaram-se em bichos da seda; da testa brotou milho e trigo, da barriga saiu arroz e de sua genitália veio o feijão; todos símbolos de agricultura, trabalho, resistência e criatividade. 
Os feijões são conhecidos no Japão como dissipadores de maus espíritos. É dito que outros alimentos ainda saíram do corpo da deusa, como o arroz doce, a soja e o pão.
Com raiva pela morte de Ukemochi, Amaterasu decidiu nunca mais ver seu irmão e, por isso, sol e lua jamais se encontrariam.

Seu nome pode ser escrito como Uke-mochi ou Uki-mochi, e, muitas vezes, a deusa era confundida com Inari em sua versão feminina, uma vez que o deus era seu marido e assumiu suas funções divinas.
Também foi associada ao deus Toyuke Okami, responsável pelo vestuário, pela habitação e pela refeições.

Inari


Inari (ou Oinari) é o kami* japonês do alimento, importante no xintoísmo. Pesquisadores acreditam que seu nome derive de ine-nari, traduzido em algo próximo a "arroz em crescimento", apesar de não aparecer nos textos clássicos da mitologia japonesa. 
Acredita-se que sua adoração começou entre os séculos 8 e 9 d.C.

Depois que Tsuki-Yomi (deus da lua) matou sua esposa Ukemochi (deusa do arroz), Inari assumiu suas funções e tornou-se também responsável pelas safras de arroz. 
Todo ano ele/ela desce de uma montanha nos primeiros dias da primavera para fertilizar os campos de arroz, às vezes, na forma de uma raposa branca (kitsune). 
Assim, tornou-se um importante deus da f ertilidade e do sucesso na cultura japonesa.
É retratado como um senhor de barbas, carregando sacos de arros, mas, por ter assumido as funções de sua esposa, é muitas vezes retratado como um deus andrógino.


















Inari (em sua forma feminina) 
aparece para um guerreiro 
com o espírito de uma kitsune.

 

Foi adorado como fa bricante de espadas e, portanto, protetor deste ofício, dos ferreiros e dos guerreiros. Às vezes era descrito com uma espada, uma foice ou um chicote (que servia para queimar plantações, mas era raramente utilizado). 
Podia se transformar numa aranha monstruosa quando desejava ensinar lições aos homens. Existem mitos sobre sua transformação em dragão e serpente. 
As crenças xintoístas e budistas atuais preferem retirar esse lado antropomórfico de Inari, fazendo com que a raposa branca seja sua mensageira.
 Sua importância fez com que ele fosse associado a uma série de outros deuses, sendo chamado de trindade (Inari sanza) ou coletivo (Inari goza).

 



Existem muitos templos dedicados a Inari no Japão (aproximadamente 1/3 dos templos), com seus inúmeros toriis (aqueles famosos portais vermelhos) e sempre protegidos pela estátua de uma raposa. 

O principal é o Fushimi-Inara, em Quioto. Seu festival é na primavera, durante o cultivo do arroz, quando é servido aburage (um tipo de tofu frito), coalhada e feijão frito.



 
Toriis seqüenciados do templo de Fushimi-Inara



* Simplificando, kami
é a palavra japonesa para deidade, espíritos, forças naturais. É a essência da fé xintoísta. Farei um post sobre isso.